O mundo de fora ensinou-me a lidar com a memória. O meu mundo de dentro ensinou-me o que era a memória, meu Deus como é que uma pessoa nunca pensa nesta enorme areia que se conduz na nossa cabeça. Uma memória de nascença até morrer. Ninguém pensa nesta nossa preciosidade, porque sem ela nós não éramos ninguém. É ela que também nos faz sofrer e relembrar os bons e os maus momentos que já passaram por nós e nós os abandonámos por alguma razão.
Se era magra e fiquei gorda, agora quero ser magra outra vez.
Se sou baixa, quero ser alta.
Se gostava de rock, agora gosto de ópera.
Se nasci a amar o mundo, continuarei igual no amor.
Sensibilidade só existe se a memória permitir. Se me lembrar de cerimónias começo a chorar, sem esta lembrança jamais caia uma lágrima do vazio. É preciso sentir para agir. Quando componho as minhas músicas a altas horas da noite só me recordo.
Sentimento de impotente para com as situações da estrada. Quero fazer uma ultrapassagem e não consigo. Quero rir e não tenho vontade. Apetece-me comer, mas não deixo. Quero gritar á janela, mas os vizinhos ouvem.
Por aqui, meu nome “Almerinda Ruivo” vai notando que as crianças nascem com um sorriso que eu não nasci. A chorar e a gritar como uma mulher brava cantava na televisão quando o lençol vinha encarnado.
Na minha ilha imaginária chegavam barcos cheios de gente talentosa que gritava na televisão cantigas de encantar. Brilhar era o nome que tinha na memória quando via o programa daqueles antigos anos. Agora não vejo televisão, mas a memória da água do meu tanque está presente, quando bebia água e pingava o meu corpo todo com óleo de amêndoas, no meio do quintal, junto ao poço da avó velhinha.
Choro quando me lembro daquele dia em que disse estou farta de ser má para ti, já não gosto do livro do Jorge Amado, “O Gato Malhado e a Andorinhassinha”, por isso parei.
Na minha paixão de circo, passeio pela rua com bolas de malabarismo e respiro o fogo que cuspo. Circense de nascença, realizadora de presente. Agora luto com moscas, agora sou guerreira de mim. Hoje luto por um mundo de malucos e descontraídos que queiram apagar algum passado.
Memória de mim, teu nome é Almerinda Ruivo, nunca mais me hei de esquecer!
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2 comentários:
A memória é o que me guardo de nós. Faço dela um portfólio de imagens com qualidade, as outras rasgo-as e vão para reciclagem.
Nós todos somos um monte de papel rasgado que reciclamos.. e se não reciclámos mais tarde vamos entristecer-nos por vermos como ficámos atulhados em lixo e isso não é ...não foi viver.
Poucos de nós olham para as fotografias de olhos nos olhos sem sentir que podíamos ter estado melhor...ou antes nem nos damos conta do mal que estivemos, fizemos...por isso eu ponho todo o meu cuidado nos instantâneos da vida...sabe tão bem ser diferente...:)
A memória é o que me guardo de nós. Faço dela um portfólio de imagens com qualidade, as outras rasgo-as e vão para reciclagem.
Nós todos somos um monte de papel rasgado que reciclamos.. e se não reciclámos mais tarde vamos entristecer-nos por vermos como ficámos atulhados em lixo e isso não é ...não foi viver.
Poucos de nós olham para as fotografias de olhos nos olhos sem sentir que podíamos ter estado melhor...ou antes nem nos damos conta do mal que estivemos, fizemos...por isso eu ponho todo o meu cuidado nos instantâneos da vida...sabe tão bem ser diferente...:)
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